Um Conselho para Cuidar da Profissão II

Neste segundo documento de campanha, começamos a caminhar mais para uma plataforma eleitoral. É também um documento de 1996.

No primeiro documento que elaboramos, fizemos uma pequena análise da situação conjuntural de nossa profissão. E apontávamos… “Nesse contexto de perspectivas extremamente desfavoráveis para o nosso futuro, entendemos fazer sentido um chamamento às forças interessadas na construção de um projeto político, que assuma como sua prioridade fazer do Conselho Federal o espaço nacional de aglutinação de um projeto “para cuidar da profissão…”

Apontávamos alguns aspectos deste projeto:
“…engajamento radical na luta pela expansão dos serviços públicos e na defesa dos direitos de cidadania…”
“…fazer um investimento no desenvolvimento de uma competência institucional, através de uma adequada capacitação técnica e humana…”

Aqui pretendemos desenvolver um pouco mais nosso projeto.
Depois de pelo menos 10 anos pesquisando, questionando, debatendo nossa profissão, temos hoje alguns consensos:

  • é preciso superar o modelo médico que tem caracterizado nossa profissão
  • é preciso construirmos uma prática que coloque nossos serviços ao alcance da maioria da população
  • é preciso atuarmos visando a promoção do bem estar do indivíduo e da comunidade. O psicólogo é um profissional da saúde e deve trabalhar para promovê-la
  • é preciso superarmos uma formação que nos ensina apenas a reproduzir Psicologia para então passarmos a criar Psicologia

Enfim, consciência de nossos problemas e mesmo a clareza de algumas soluções nós parecemos ter. O que nos falta então?
Nos falta ousar por em prática, através de nossas entidades, alguns procedimentos que contribuirão para o avanço. Não basta termos consciência dos problemas; é preciso atuar, intervir na realidade.

As gestões do Conselho Federal de Psicologia tiveram o grande mérito de abrir o espaço da entidade para o debate, contribuindo para que todas estas questões fossem apontadas. Agora é preciso transformar nosso conhecimento sobre a profissão e seus problemas em ação.
É preciso construir ou reformular os instrumentos de comunicação com a categoria para que possam levar a cada psicólogo este debate; para que possam levar a cada psicólogo propostas e alternativas para a prática de cada um, propostas acompanhadas de sua fundamentação teórica;
É preciso dialogar com as agencias formadoras dos psicólogos, porque aí está a fonte de grande parte de nossas questões e talvez a fonte de grande parte de nossas soluções. Não devemos ser ingênuos acreditando que nossos problemas se localizam exclusivamente na formação; estaríamos sendo simplistas e superficiais em nossas análises, pois a formação dos psicólogos reflete uma sociedade e uma ciência neo-liberais, tecnicistas que ignoram as desigualdades existentes e estão baseadas na política da exclusão. É preciso, portanto, entender a questão da formação dentro de um contexto social onde ela ocorre e que lhe empresta características e propriedades.
Assim pretendemos um debate aberto e histórico com as agencias formadoras. É preciso dialogar, principalmente com as Universidades públicas que sempre foram as agencias de ponta na formação de nossos profissionais. Que psicólogo estão formando? Estão ensinando que visão de homem e de sociedade? Que prática profissional estão estimulando? As Universidades públicas devem ser a referência, devem ser o carro chefe de nossa formação. Nosso debate deve se iniciar aí.
Nessas escolas é preciso debater o modelo de serviço que está instituído através dos estágios. Como andam os Serviços de Psicologia Aplicada? As Clínicas Psicológicas? Como podemos desejar que nossos profissionais se comprometam com um atendimento e uma Psicologia para a maioria da população se nossas clínicas estão construídas a partir do modelo da prática autônoma da Psicologia? Temos muito que debater.
Outro ponto importante nesse diálogo é a possibilidade de entendermos a Psicologia fundamentalmente como uma ciência e não simplesmente como uma profissão. Ver a Psicologia como ciência significa repensar a profissão a partir do ponto de vista da ciência. Temos freqüentemente analisado nossa profissão pensando-a como uma prática profissional, portanto como conjunto de métodos e técnicas de intervenção. E pensamos que a prática que sabemos desenvolver poderia ser melhor aproveitada, poderia se expandir etc…Mas é preciso pensá-la de uma outra perspectiva: a da ciência. Há uma realidade social e humana que apresenta para a ciência problemas; cabe à ciência, a partir desta realidade e sempre colada a ela, investigar, pesquisar e construir formas de superar as dificuldades e necessidades apresentadas. Talvez se fizéssemos isto chegássemos à conclusão que é preciso redirecionar nossa profissão para uma prática educacional, junto aos milhares de alunos de nossas escolas públicas onde o fracasso é hoje a maior característica; junto aos trabalhadores para a obtenção de condições saudáveis de trabalho; junto à população, nas unidades de saúde, para construirmos coletivamente as condições saudáveis de vida. Estes são exemplos apenas de uma reversão na direção de nossa formação; talvez não sejam estas as prioridades, mas com certeza não são prioridades as práticas que insistimos em ensinar.
Superar o modelo médico/ clínico de atuação é outro ponto que tem merecido nossa atenção. Pensamos que a superação deste modelo passa inevitavelmente pelo debate da visão de homem e de sociedade que fundamentam nossos conhecimentos e prática. A visão do homem autônomo, independente, ahistórico precisa ser superada; um homem que se autodetermina; que é responsável único pelo seu processo de individuação são aspectos que merecem nossa atenção para que possamos iniciar o trabalho, com certeza longo, de superação.
É preciso ainda que estejamos dispostos a colocar tudo na mesa, sem medo. Este medo que tem aparecido em pesquisas sobre nossa profissão: o medo do novo; a insegurança do não saber fazer sempre que a situação é outra que não aquela aprendida/vivida na faculdade. O debate corajoso de nossas questões é ponto de honra quando se pretende cuidar da profissão, pois cuidar da profissão não é trabalhar para mantê-la como está; trabalhar para cuidar da profissão é ousar expor nossos problemas e fragilidades, nossas ignorâncias e desconhecimentos para construir uma Psicologia que seja realmente importante e necessária para a sociedade brasileira.

Esperamos sua colaboração. Convidamos você para esta luta!

Chapa 2 UM CONSELHO PARA CUIDAR DA PROFISSÃO

EFETIVOS:
presidente: Ana Mercês Bahia Bock – SP
vice-presidente: Francisco José Machado Viana – MG
secretário: Marcus Vinícius de Oliveira Silva – BA
tesoureiro: José Carlos Tourinho e Silva – SE
diretoria região Norte: Jorge Moraes Costa – PA
diretoria região Nordeste: Laeuza Lúcia da Silva Farias – AL
diretoria região Centro-Oeste: Deusdet do Carmo Martins – GO
diretoria região Sudeste: Ernesto J. Santos – RJ
diretoria região Sul: Álvaro Luiz de Aguiar – SC

SUPLENTES:

Marcos Ribeiro Ferreira – SC
Marta Elizabeth de Souza – MG
Odair Furtado – SP
Rosa Maria Benedetti Albanezi – DF
Cândida do Socorro Conte de Almeida – PA
Francisco Eduardo da Costa – CE
Maria de Lourdes J. Contini – MS
Jorge Broide – SP
Julieta Arsenio – PR