Material de Campanha 1996: No que somos diferentes?

Esse documento já é divulgado em data mais próxima da eleição (novembro/96) e já possui um tom de disputa e conflito.

CHAPA 2: UM CONSELHO PARA CUIDAR DA PROFISSÃO

NO QUE SOMOS DIFERENTES?

Muitos colegas, desde o início de nossa campanha, têm nos feito essa pergunta, buscando compreender a diferença entre as duas chapas que ora se candidatam ao Conselho Federal de Psicologia. E verdade que os colegas que hoje constituem as duas chapas, estiveram juntos em lutas pela democratização dos Conselhos. E verdade que estivemos juntos no I Congresso Nacional da Psicologia defendendo transformações na entidade e reivindicando mudanças na profissão. Por isso entendemos que hoje exista a dúvida: no que somos diferentes?
Achamos importante, nesse momento próximo às eleições, virmos a público explicitar algumas diferenças que justificam estarmos hoje separados.

No que somos diferentes?
A Chapa 2, Um Conselho para cuidar da Profissão, nasceu em oposição aos métodos de trabalho que vinham sendo utilizados pelos colegas que ocuparam o CFP, nessa gestão de um ano, e que hoje se candidatam à reeleição. No início de 1996, depois de insistentes questionamentos aos colegas sobre como estavam pensando a mobilização da categoria para o II Congresso Nacional e para a articulação de chapa para a nova eleição, sem obtermos respostas resolvemos lançar uma articulação pública, aberta e democrática para a discussão de uma política nacional para os conselhos. O documento recebeu o titulo “Um Conselho para Cuidar da Profissão”. Nele analisávamos a situação atual de nossa categoria, dizíamos da importância de direcionarmos o trabalho de nossa entidade para “cuidar da profissão” e apontávamos uma possível reunião em julho de 96 em São Paulo, para uma “conferência aberta desta articulação, momento no qual a produção deste processo poderá ser sintetizada, oferecendo visibilidade aos consensos e dissensos, que caso sejam insuperáveis poderão, no nosso entender, dar origem a tantas chapas quantos forem os agrupamentos que ali se produzirem. Obviamente, ao dar inicio a este processo, temos expectativas de que, superando os limites pessoais e regionais, possamos construir abrangentes consensos, reunindo, em torno de um mesmo programa, todas aquelas forças que tem, há mais de uma década, buscado construir uma autarquia mais competente e mais democrática.” Assinávamos eu, Chico Viana (MG) e Marcus Vinicius (BA).

Este documento foi, na época, enviado a todos os Conselhos Regionais, ao Conselho Federal e a alguns companheiros isolados que sabíamos interessados no processo. Colocamos em duas BBS (Psicnet e Mandic) e demos nossos endereços eletrônicos para envio de sugestões e debates.

Queríamos um processo amplo de discussão dos problemas da categoria. Queríamos um processo aberto de formação de chapas. Não queríamos chapas montadas dentro dos conselhos, a portas fechadas, sem renovação e sem conhecimento da categoria. Era essa nossa luta! Queríamos um II Congresso Nacional da Psicologia mais massivo que o primeiro; queríamos atingir um número maior de psicólogos com as discussões e preocupações que estavam na pauta do Congresso. E o CFP e os Conselhos Regionais, em sua maioria, (vale ressaltar que houve exceções) não se mobilizavam, não informavam à categoria que estávamos em um ano de Congresso e de eleições (temos a impressão que as eleições os colegas tomaram conhecimento só agora e o Congresso talvez nem saibam que ocorreu!) Nosso documento não teve qualquer divulgação; não fomos em nenhum momento chamados para o debate e para o diálogo.

Não concordamos com esse método de direção de uma entidade que se pretende representante da categoria na sociedade brasileira.
Essa foi nossa primeira e básica discordância.

Se seguiram outras: os colegas da outra chapa e seus apoiadores fizeram de tudo para inviabilizar nossa chapa: pressionaram companheiros a se retirarem de nossa chapa ameaçando destituí-lo de seu cargo na Fenapsi; fizeram promessas e acordos de apoio à formação de novos regionais retirando de nossa chapa um companheiro da Paraíba; fizeram acordos no Congresso, abrindo mão de posições aprovadas no Congresso Regional de São Paulo, em favor da unidade São Paulo-Rio-Paraná nas eleições; e abriram uma campanha de difamação de nossos companheiros e de nossas intenções.
Mas conseguimos, graças à coragem e garra de nossos parceiros, inscrever a chapa 2.

Mas não parou aí: com a entidade nas mãos, nossos adversários continuaram utilizando métodos de campanha dos quais discordamos: a plataforma da chapa 1 foi modificada, depois da publicação da nossa, tornando-se parecida com a nossa (os colegas jogam exatamente com a indiferenciação entre as chapas); os apoiadores do Rio de Janeiro fizeram um Jornal do CRP-05 e não informaram aos psicólogos do Rio que existiam duas chapas concorrendo: em São Paulo tiveram acesso a nossas matérias que saíram em jornal do CRP-06, antes da publicação, viabilizando uma tentativa de descaracterização do apoio dado a nossa chapa por Madre Cristina; tudo indica que atrasaram o Jornal do CFP, impedindo o acesso da categoria â informação e ao debate necessário para a decisão do voto. Acho que nem preciso me alongar nessa enumeração de fatos, pois se nossa oposição se dá exatamente por considerarmos que nossos colegas não trabalham na direção de mobilizar os psicólogos, informando-os e incentivando-os ao debate e participação, temos a certeza de que você, que nos lê nesse momento, sabe que isto é verdade, pois descobriu, com certeza a pouco tempo, que houve um Congresso e haverá eleições para o CFP. Quem omitiu a informação para a categoria? Quem era responsável por essa tarefa? A diretoria atual do CFP não demonstrou uma política em favor da categoria. E isso você, colega que lê essa notícia, sabe. Certo?

Queremos ainda registrar que se hoje você sabe de tudo isso, tem muito a ver com a pressão que fizemos através de cartas, telefonemas e um pouco de voz forte e firme sobre os Conselhos Regionais e o CFP. É bom lembrar também que as direções do CFP e do CRP-06 mudaram nesse último mês, trazendo companheiros mais democráticos para frente dessas entidades.
Para terminar, gostaria de registrar ainda que consideramos nosso projeto, um projeto claro de contribuição para a qualificação da inserção de nossa categoria na sociedade.
Pretendemos ocupar o CFP e colocá-lo a serviço da qualificação de nossa profissão e de nossa ciência. É esta a nossa palavra de ordem.

Ana Bock – Por um Conselho para cuidar da Profissão.