Novo Boletim do Cuidar 03/2010 Psicologia e Direitos Humanos

Psicologia e Direitos Humanos       Humberto Verona                                                      

A Chapa PRA CUIDAR DA PROFISSÃO (21) compreende que a temática dos direitos humanos é um eixo da formação profissional e deve atravessar permanentemente o exercício da profissão, não podendo ser considerado isoladamente. Por isso, os direitos humanos devem ser incluídos de modo transversal em todas as práticas psi.

Sabemos que a História contingencia aquilo que é tomado por universal, natural e garantido e, portanto, a PRA CUIDAR DA PROFISSÃO (chapa 21) entende que os direitos humanos não são algo naturalmente dado (apenas para alguns – aqueles considerados humanos), mas, principalmente, configuram-se como conquistas dos movimentos sociais e das lutas de grupos excluídos de direitos de cidadania que participaram e participam de intensos embates em prol da conquista desses direitos, muitas vezes com perdas de preciosas vidas.

A temática dos direitos humanos é antiga na história da civilização, mas a noção que herdamos de defesa dos direitos humanos origina-se das lutas entre a burguesia contra o absolutismo, na Europa. Assim, os princípios da individualidade e da universalidade de direitos tornaram-se indissociáveis da noção de propriedade privada e do direito privado de alguns, em detrimento do direito de muitos, que permanecem excluídos de plena cidadania.

Assim, historicamente, sabemos que a resposta da sociedade a determinadas situações, pessoas ou grupos vistos como “desviantes”, “praticantes de atos anti-sociais”, considerados “perigosos” ou “inferiores”, tem se configurado em práticas de exclusão do meio social estabelecido como hegemônico.

Nessa perspectiva, a PRA CUIDAR DA PROFISSÃO (chapa 21) permanece defendendo o compromisso permanente com a transversalidade dos direitos humanos nas práticas dos psicólogos, tanto no que tange ao envolvimento da psicologia com as lutas dos movimentos sociais por conquistas de direitos, quanto junto ao poder público, para a estruturação de políticas públicas que garantam e que materializem esses direitos. E é no cotidiano do trabalho da categoria, na tessitura de articulações democráticas e contínuas, que a chapa 21, PRA CUIDAR DA PROFISSÃO, objetiva dar continuidade à agenda de discussões sobre todas as temáticas que envolvem direitos humanos e a atuação dos psicólogos em seus diversos campos de trabalho.

Nesse sentido, pretendemos continuar realizando campanhas nacionais de direitos humanos, escolhidas em discussões com o coletivo dos psicólogos, com a finalidade de denunciar as frequentes violações que continuam acontecendo em nosso país, bem como de fortalecer e dar visibilidade a grupos politicamente minoritários, despossuídos de direitos e que sofrem violenta discriminação.

A PRA CUIDAR DA PROFISSÃO (chapa 21), pretende também continuar discutindo mesmo (e sobretudo) as polêmicas temáticas, envolvendo direitos humanos, e que perpassam a atuação dos psicólogos em seus diferentes campos de trabalho, como a banalização da vida e da morte de determinadas populações e, mesmo, as tentativas de manipulação do saber do próprio profissional psicólogo, na direção de restringir sua prática a procedimentos meramente psicopatologizantes, desconsiderando a diversidade e a riqueza de recursos que a psicologia, como ciência, pode oferecer.

Por outro lado, entendemos que a mera judicialização de conflitos não significa necessariamente a produção de mais justiça, e, muitas vezes, produz efeito contrário. Conflitos e tensões postos em cena, e que se relacionam aos direitos humanos, acreditamos, não devem ser pensados apenas no contexto do Poder Judiciário. Do mesmo modo, não dizem respeito somente aos psicólogos que atuam nesta área. Sem uma educação do próprio psicólogo, do coletivo de psicólogos, para os direitos humanos não há possibilidade de se estabelecer relações entre estes e os demais direitos de cidadania. Assim, é necessário aprender a relacionar educação e direitos humanos; saúde e direitos humanos; trabalho e direitos humanos; qualidade de vida e direitos humanos; privação de liberdade e direitos humanos; loucura e direitos humanos; questões de gênero e direitos humanos; questões etnicorraciais e direitos humanos, diversidade sexual, cultural e religiosa e direitos humanos; mídia e direitos humanos; economia e política e direitos humanos… Sendo assim, percebe-se a complexidade do debate e a necessidade de sua continuidade, envolvendo os psicólogos e ampliando-se em círculos cada vez mais alargados.

Desse modo, é objetivo e preocupação fundamental da PRA CUIDAR DA PROFISSÃO (chapa 21) continuar discutindo coletivamente com os Conselhos Regionais a ampliação de instrumentos na direção da criação de dispositivos visando romper preconceitos e discriminações de gênero, raça, etnia, orientação sexual, idade, classe social, bem como com as demais e inúmeras violações dos direitos humanos (por exemplo, a tortura institucionalizada) que ocorrem diariamente no país, em delegacias, penitenciárias, asilos, manicômios e demais instituições de longa permanência que ainda existem.

Faz-se, também, necessário desnaturalizar práticas hegemônicas e romper com atitudes autoritárias nos diversos segmentos da sociedade brasileira, inclusive nos locais de trabalho de muitos psicólogos, oprimidos por essas mesmas práticas. Nessa direção, de modo crítico, nas discussões sobre direitos humanos, os psicólogos têm um importante papel a desempenhar e muito a contribuir.

 

                Humberto Verona

 

 

Conheça a Chapa 21 Cuidar 

Carta de apoio ao Pra Cuidar da Profissão MG

Caros Amigos e Colegas Secretárias e Secretários Municipais de Saúde e Companheiros e Companheiras do SUS:

No próximo dia 27 de agosto acontecerão as eleições para os Conselhos Regional e Federal de Psicologia, e por entendermos que as propostas apresentadas na Carta Programa – PRÁ CUIDAR DA PROFISSÃO-MG estão de acordo com a ética e o fortalecimento de uma profissão tão importante na saúde das comunidades, e reconhecendo que os profissionais que compõe a chapa são sérios e comprometidos com as políticas públicas e a melhoria da qualidade de vida e a dignidade do ser humano. Vimos pedir que também abrace esta causa e dê seu valioso apoio e pedidos aos Psicólogos que trabalham na rede de saúde de sua Secretaria Municipal de Saúde o voto e apoio a esta equipe que compõe a chapa 11, concorrendo ao CRP-MG e a chapa 21, concorrendo ao CFP.

As propostas desta equipe baseiam-se nos Direitos Humanos, na Valorização da Profissão, na Ampliação dos postos de trabalho em Políticas Públicas, na Democratização, Interiorização e Regionalização dos Conselhos, além de estarem comprometidos para que a Reforma Psiquiátrica Brasileira tome rumos de transformação da assistência em saúde mental.

É importante que esta classe de profissionais não percam as conquistas alcançadas (que reflete diretamente na vida dos usuários do nosso SUS) até aqui e continue trilhando esta trajetória de discussão respeitosa e democrática sobre o importante papel desta categoria nos diversos setores em que tem interface.

No intuito de apoiar as propostas desta equipe, convidamos a todos para a leitura e divulgação de material disponível em: www.pracuidarminas.org

                                                                             GILSON URBANO DE ARAÚJO

Cientista Social e Administrador Público, Gestor Municipal de Lagoa Santa, Vice Presidente do COSEMS-MG, Membro do CONASEMS, Membro da Comissão de Trauma e Violência do Conselho Nacional de Saúde.