Mensagem da Coordenação Nacional do Cuidar da Profissão
O Cuidar da Profissão tem como base a aposta na rua como espaço vital, no qual nos encontramos e reencontramos com o que nos identifica e com o que é diverso para, então, nos reconstituirmos como coletivo que respeita a singularidade e não a entende em oposição à diversidade. Por isso, vimos a público apresentar algumas considerações iniciais sobre o momento que estamos vivendo no Brasil. Compreendemos que esta é uma oportunidade para reafirmarmos nosso compromisso com o método democrático, fazendo o exercício permanente de leitura da realidade e, nesse mesmo gesto, de alterá-la.
Do ponto de vista do aproveitamento da experiência acumulada na Psicologia, fica clara a importância de oferecermos uma contribuição para o debate social na busca de desvelar os não ditos e oferecer elementos que permitam uma elaboração consistente dos processos que estamos vivendo. Cotidianamente saltam aos olhos dimensões que vão sendo tratadas como naturais e óbvias, mas cujo desmonte e reconstrução poderão ser facilitados se houver disposição para uma escuta apurada e persistente.
Um exemplo disso consiste na forma como as mobilizações são tratadas pelos órgãos de imprensa. Podemos observar esforços de formatação de uma racionalidade que explica a dinâmica insurrecional como resultado de uma falência generalizada das instituições democráticas. Alguns meios de comunicação tratam as mobilizações como algo justificado por um esgotamento da capacidade de representação de partidos, sindicatos e outras formas de representação da sociedade. Interessantemente, esse esgotamento é quase um bordão repetido de forma continuada por esses mesmos atores.
Nesse cenário, muitos são os atores que apontam para o grande risco no abandono da perspectiva de reforma do aparelho estado. Por um lado, essas pessoas afirmam não reconhecer o Brasil descrito em algumas manifestações com aquilo que a população vive hoje no país. Por outro, afirmam que, do ponto de vista do que se pode aprender com a história, percebe-se que o abandono do projeto de reforma do Estado (que vem sendo desenvolvido no Brasil) abre a porta muito mais para alternativas de recorte autoritário, do que para a vivificação dos espaços de democracia direta que se poderia almejar na organização de mobilizações sociais.
Interessante notar que o maior ganho de qualquer mobilização coincide ser o melhor método no processo de sua construção . Trata-se da constituição de coletivos em que sejam fortalecidas as relações entre atores comprometidos com os mesmos objetivos, em que ocorra o aprofundamento do exame e formulação de cenários compreensivos e em que sejam tomadas decisões que representem esse coletivo sobre a forma de atuar. Sem a construção de coletivos o resultado só pode ser despersonalização e perda de referenciação entre os atores.
Diante dessa compreensão, cabe fazer um chamamento às (aos) profissionais da Psicologia e, especialmente, às (aos) nossas(os) companheiras(o)s do Movimento Cuidar da Profissão. Devemos insistir, em qualquer processo de que participemos, no desvelamento e clarificação das perspectivas (empregando para isso toda a capacidade de escuta que possamos agregar) e na formação de coletivos que possam tomar em suas mãos os rumos das iniciativas e do futuro de qualquer estratégia que seja estabelecida.
Coordenação Nacional do Cuidar da Profissão