A Psicologia entrou na Educação, primeiramente, para evidenciar as diferenças entre os alunos, tendo sido, inicialmente, chamada à escola para explicar o fracasso escolar. As teorias daí provenientes, nos anos 60, forneciam explicações que tinham como cerne as características biológicas do sujeito, ou seja, o aluno era o responsável por seu fracasso devido a alguma deficiência ou inadequação, e à educação cabia somente adaptar esse aluno. Depois deste período, a explicação passou a ser outra: social. A queixa escolar foi justificada pela falta de condições econômicas e tudo que envolvia essas condições, por exemplo, alimentação e moradia.
Sobre as críticas dirigidas à Psicologia no meio educacional, sabemos que, atualmente, ainda existem práticas a serem combatidas. Destacamos, nesse sentido, situações em que alunos são retirados de suas salas de aula e avaliados, pela aplicação de testes, sem a participação do professor responsável por eles. Chama atenção, ainda, a ausência de discussão, nessas práticas, com este professor a respeito da possibilidade de mudar suas estratégias com aquela criança.
Desta maneira, pode-se compreender o porquê da Psicologia, quando chamada para auxiliar no contexto escolar atualmente, ser ainda considerada pelos profissionais do ensino como um entrave ao andamento de seu trabalho. Diante da reação dos professores no sentido de resistir à Psicologia como forma de auxiliar sua ação em sala, podemos perguntar: é a ação da Psicologia que gera estas reações, ou é o uso inadequado que se faz da Psicologia nas escolas? O problema, então, não está na ciência psicológica, mas no uso que alguns fazem dela…
Lembramos ser necessário que se deixe de responsabilizar o aluno pelo histórico de fracasso escolar existente no Brasil e que, no passado, foi demanda da Psicologia dentro da escola.
Também é premente que não se culpabilize o professor por isto. Apesar das variadas críticas a uma atuação que faz mau uso dos saberes psicológicos na escola, consideramos que esta ciência tem muito a contribuir para formação do professor, principalmente se a examinarmos à luz de uma prática pedagógica, que tem intencionalidade e é constituída de um processo social.
Percebemos, assim, que uma das possibilidades de inserção da Psicologia no cotidiano escolar, é a promoção de um melhor entendimento sobre o fenômeno educativo por parte do professor, e conseqüentemente, a contribuição para uma atuação mais consciente deste. Pode-se afirmar, pois, que o papel social da Psicologia em relação a toda comunidade escolar (pais, funcionários, alunos e professores) é o de ajudar a promover a autonomia e a reflexividade desta, além de contribuir com a escola no auxílio a um direcionamento mais coerente com a educação que a mesma propõe.
Se a presença da Psicologia contribui com as práticas educacionais, ela não é condição suficiente para que as transformações ocorram. Há outros olhares que podem, mais do que oferecer respostas, ajudar a elaborar perguntas sobre as quais nunca tínhamos pensado. Nesse sentido, o profundo respeito pelas contribuições de outras ciências revela que se isto for desconsiderado, a transformação do processo educativo levará tanto tempo que nós, psicólogas(os), passaremos décadas tentando convencer a educação (apenas convencer!) de que temos o que dizer e contribuir.
Buscando reagir a uma Psicologia burocrática, elitista e encastelada, psicólogas(os) procuram traduzir os conhecimentos que esta ciência tem produzido em relação ao processo de ensino e de aprendizagem para professores, intentando promover sua compreensão. Este movimento vem sendo alterado após muitas discussões promovidas por psicólogas(os) que atuam tanto com a formação deste profissional, como diretamente nas escolas, com a formação de professores. Cada vez mais, a Psicologia vem se mostrando como uma ciência responsável, que busca, em pesquisas científicas, a fundamentação para mudanças necessárias dentro da escola. Tem muito a contribuir com o trabalho do professor em sala de aula por meio do fornecimento de explicações acerca do comportamento e da produção da subjetividade, de modo que o docente possa constituir e interpretar sua prática de maneira mais consciente e comprometida com a direção do desenvolvimento que intenciona promover.
É importante lembrar que não basta deixar de culpar o aluno e, ainda equivocadamente, passar a responsabilizar o professor por toda a história de fracassos na qual a educação brasileira está mergulhada. A Psicologia precisa assumir seu compromisso social, participar da promoção da autonomia dos atores do processo de ensino e de aprendizagem, contribuindo para desenvolver a reflexividade de professores, pais, funcionários e alunos, ajudando a escola a ter uma atuação mais coerente, na direção daquilo que ela pretende alcançar.
É nessa direção e com esse olhar que queremos assegurar e defender a presença das(os) psicólogas(os) nas escolas. Portanto, essa luta exige, ao mesmo tempo, espaços contínuos de reflexão e discussão sobre a prática da Psicologia, em diálogo com produções que tem oferecido referências para uma atuação transformadora nas escolas.
A PSICOLOGIA precisa CUIDAR disto!